Muitas mulheres sonham em ter um parto em casa. Mas e aí, do sonho até a concretização, como funciona? Quem pode ter um parto em casa? Quais critérios você deve levar em consideração? E o principal: o parto domiciliar é seguro pra você e pro seu bebê?
Por que planejar um parto em casa?

Algumas mulheres podem se sentir mais seguras estando em um ambiente familiar e acolhedor. Outras, podem se sentir mais seguras estando perto de todos os recursos tecnológicos que um hospital pode oferecer (independente de vir a utilizá-los ou não).
Qual o local mais indicado? Se a gestante não tiver fator de risco aumentado, aquele em que ela se sentir mais segura.
Alguns dos fatores que fazem com que seja possível que a mulher opte por um parto normal¹, porém não seja seguro planejar um parto em casa² são:
- Parto prematuro
- Parto induzido
- Gestação de gêmeos
- Pressão alta
- Diabetes
- Uso de anti-depressivos
- Mais de 2 cesáreas anteriores
- Bebê pélvico (bebê sentado)
- Confirmação ou suspeita de Covid-19 no momento do parto ou se teve Covid-19 durante a gestação (trecho incluído em dez/2020)
Se a gestante teve um pré-natal adequado e não foram identificados fatores de risco na gestação, ela pode escolher ter um parto em casa. Uma equipe de parteiras capacitada e responsável saberá te orientar sobre as contra indicações para ter um parto em casa 😉
A equipe que irá atender seu parto domiciliar poderá contar com parteiras modernas, como as enfermeiras obstetras ou obstetrizes.

Das contra indicações listadas acima, a única que pode vir a ocorrer sem que tenha sido identificada antes é o bebê pélvico. Isso pode acontecer porque até o finalzinho da gestação seu bebê ainda pode mudar de posição. Porém ainda assim saiba que isso é bem raro: somente 3 a 4% dos bebês chegam a termo pélvicos³.
Após o início do trabalho de parto, quando o bebê já está encaixado e descendo pela pelve da mãe, isso é ainda mais raro, pois ele já não tem mais tanto espaço disponível para mudar de posição. Se isso ocorrer, a equipe responsável deverá avaliar a posição do bebê e, sempre que possível, transferir a mulher para um hospital⁴. Como nem sempre há tempo hábil para isso (pode ocorrer caso o parto evolua muito rápido e a equipe chegue à sua casa já com o bebê quase nascendo), é essencial que você escolha uma boa equipe, treinada, capacitada e responsável, capaz de prestar a melhor assistência a você e ao seu bebê.
Como escolher sua equipe?
Algumas questões essenciais a serem debatidas com a equipe que irá atender seu parto domiciliar são⁵:
- Experiência com partos e, mais especificamente, com partos domiciliares
- Experiência em atender partos vaginais pélvicos
- Treinamento e atualizações em emergências obstétricas
- Treinamento e atualizações em reanimação neonatal
Você pode ver aqui mais dicas para escolher sua equipe.
O parto em casa é seguro?
O parto em casa também é conhecido como parto domiciliar (PD) ou parto domiciliar planejado (PDP). Esse nome se dá porque ele é diferente do parto domiciliar não planejado ou acidental, que é o que ocorre quando a gestante planejou ter seu bebê em outro local, como hospital ou casa de parto, mas por algum motivo não chegou a tempo.
Diversos estudos comprovaram que, no caso de gestantes de baixo risco, não há diferença significativa entre o local escolhido para o parto, tanto no que diz respeito à segurança da mãe quanto à do bebê⁶. Contudo, tais estudos foram realizados em países onde o parto domiciliar tem apoio do sistema de saúde, como transporte rápido em caso de emergências e pré-natal de qualidade. Por isso no Brasil é recomendado que partos domiciliares sejam planejados somente em locais que, mesmo com trânsito, fiquem a no máximo 20 minutos de distância da maternidade mais próxima, e que essa seja uma maternidade “porta aberta”, ou seja, preferencialmente pública devido à maior agilidade no atendimento, e com plantonistas prontos para atendimento 24h.
O que acontece em caso de emergência?
Ao ter um bom acompanhamento pré-natal, a maioria dos fatores de risco é identificado com bastante antecedência, de forma que restam poucas “surpresas”. Em caso de qualquer contraindicação ao PD, sua equipe de parteiras irá te orientar e te prover todo o cuidado adequado para que você siga seu pré-natal e tenha seu parto com acompanhamento da equipe médica, podendo manter também o acompanhamento complementar da equipe de parteiras, caso assim deseje.
Cabe ressaltar que a maioria das transferências de casa para o hospital ocorrem a pedido da gestante, quando desejam se utilizar de alguma forma medicamentosa de alívio da dor (analgesia), sendo pouquíssimas as ocorrências de emergência⁷. Para as raras eventualidades que ainda podem ocorrer sem que tenham sido previstas no pré-natal, as equipes devem contar com treinamento frequente e material necessário para atendimento de emergência, como medicamentos anti-hemorrágicos, cilindro de oxigênio e reanimador (ambu).
Afinal, qual o melhor lugar para parir?
Apesar de toda a estrutura médica, os partos hospitalares por sua vez apresentam alguns outros riscos, como por exemplo infecção hospitalar e maior número de intervenções (que podem acarretar em desfechos não favoráveis)⁸. Isso explica os percentuais tão próximos (e baixos!) de desfechos negativos observados nos partos de risco habitual, pois significa dizer que não é que um dos ambientes seja mais perigoso/seguro que o outro, mas sim que cada um dos ambientes de parto possíveis (em casa ou no hospital) possui riscos que são inerentes apenas a ele, e não ao outro ambiente. Por isso, a orientação é que cada mulher possa escolher parir onde se sentir mais segura, desde que, claro, tenha as condições de saúde adequadas para tal.
Referências
- Melania Amorim (2012). Indicações reais e fictícias de cesariana. Disponível em http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
- Maíra Libertad, Mariane Menezes (2017). Parto domicilar e doulas – informações relevantes para a prática. Palestra organizada pelo Levatrice.
- Spinning Babies. Breech. Disponível em https://spinningbabies.com/learn-more/baby-positions/breech/
- Maíra Libertad (2018). Sobre desfechos negativos em parto pélvico domiciliar. Postagem no grupo do facebook “Cesárea? Não, obrigada!”, disponível em https://www.facebook.com/groups/cesareanao/permalink/1841394945873766/
- Maíra Libertad (2015). E na hora de escolher uma parteira? Disponível em https://www.coletivodeparteiras.com/single-post/2015/02/19/E-na-hora-de-escolher-uma-parteira
- Kenneth C Johnson, Betty-Anne Daviss (2005). Outcomes of planned home births with certified professional midwives: large prospective study in North America. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC558373/
- Cheyney M, Bovbjerg M, Everson C, Gordon W, Hannibal D, Vedam S (2014). Outcomes of care for 16,924 planned home births in the United States: the Midwives Alliance of North America Statistics Project, 2004 to 2009. Resumo disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24479690
- Ank de Jonge, Jeanette A J M Mesman, Judith Manniën, Joost J Zwart, Jeroen van Dillen, Jos van Roosmalen (2013). Severe adverse maternal outcomes among low risk women with planned home versus hospital births in the Netherlands: nationwide cohort study. Disponível em http://www.bmj.com/content/346/bmj.f3263
- de Jonge A, van der Goes BY, Ravelli AC, Amelink-Verburg MP, Mol BW, Nijhuis JG, Bennebroek Gravenhorst J, Buitendijk SE (2009). Perinatal mortality and morbidity in a nationwide cohort of 529,688 low-risk planned home and hospital births. Resumo disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19624439
- Melania Amorim (2014). Parto Domiciliar: direito reprodutivo e evidências.
Disponível em http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/estudando-parto-domiciliar.html